segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Fora da sala de aula


Enquanto os meus alunos faziam uma atividade durante a aula (Arte), parei o que fazia no momento. Algumas coisas que ocorreram recentemente me fizeram refletir:
- As crianças, infelizmente, estão cada vez mais intolerantes a comandos, ou seja, não aceitam que o professor é autoridade da sala e querem tratá-lo como tratam o colega ao lado. Na maioria das vezes, levantam o tom de voz, gritam e agem como se fossem os "donos do pedaço". Sem contar aqueles que ainda tiram sarro da cara do professor. E isso ocorre constantemente...
- Por falar nisso, o tratamento entre os colegas é inadmissível: gritam uns com os outros, xingam e, quando menos se espera, estão praticamente se estapeando... O respeito ficou totalmente fora dos portões da escola. Um absurdo!



- Pior do que isso, só mesmo os pais completamente cegos diante das atitudes dos filhos: passam as mãos na cabeça destas crianças como se elas fossem uns "anjinhos" e ainda jogam a culpa para cima da escola. Dia desses, um pai teve o "prazer" de encher a boca e falar "que o problema com o filho dele é da escola. Que se virem!". Virou as costas e saiu. Pode?
- Durante o recreio, ainda tem aqueles alunos que inventam de destruir alguma coisa (quebram vidro, chutam caneca, jogam objetos no vaso sanitário). Esquecem que quem paga tudo aquilo são os próprios pais e nós (com tantos impostos...).
- O professor chega a perder a voz de tanto pedir (e quando não dá mais, precisa gritar): "sentem", "prestem atenção", "chega", "fulano senta no teu lugar"... Os alunos não respeitam mais nada... Nem ninguém! Uma pena!
- O chão é a nova lixeira da sala de aula. Papeis de bala (que chupam escondido, pois não é permitido), folhas de caderno, farelos de lápis... tudo vai para o chão. Alguns alunos têm consciência e jogam na lixeira, outros varrem a sala quando está muito suja, o resto não está nem aí... E ainda brincam de fazer cesta com bolinhas de papel.
- E mais: o professor explica, explica, e os alunos não estão nem aí... depois ainda reclamam que o professor não passa nada ou não faz nada em sala de aula. Na verdade, eles não copiam, não ouvem as explicações e não entregam trabalhos. E ainda choram pelas más notas.
- Mas não para por aqui: tem alunos que vão para a sala de aula por obrigação. E é triste falar isso: eles só vão para receber o Bolsa-Família.
Logo que comecei nesta empreitada, pensei que o problema fosse apenas comigo. Sou exigente, disciplinada e não tolero algumas atitudes dos alunos em sala de aula. Se preciso, paro tudo e lasco sermões. Sou chata e já fui chamada assim por alguns alunos. Mas penso que é necessária uma reviravolta na educação, pois do jeito que está, não dá.
Quem está fora da sala de aula, vê esta realidade de outra maneira: índices elevados, mais alunos nas escolas, menos analfabetos. Mas o outro lado da moeda é bem complicado e triste: alunos que mal sabem ler e escrever, que não respeitam regras e nem pessoas, que estão ali apenas por estar. Não pensam no futuro. São obrigados a estarem na sala de aula e saem sem saber a matemática básica (soma, divisão, subtração e multiplicação).
Penso em como será o futuro destes cidadãos hoje em formação. Será que eles não têm consciência de que o mundo fora dos bancos escolares é cada vez mais exigente? Não vêem que quem mais perde são eles mesmos? Converso (pelo menos tento) com meus alunos. Sinto-me triste quando percebo que "entrou por um ouvido e saiu por outro". Mas não posso fazer muito mais do que faço dentro dos portões da escola. Fora deste limite, é a família, os amigos e a sociedade que vão ensinar aos alunos o que é a vida real! Repleta de provas, porém, quase sempre sem recuperação!
Pense nisso!
Tatiana Dornelles

Um comentário:

  1. Tatiana, acho que muitos professores reconheceriam esse cenário.
    Parabéns pelo post.

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