quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

A dor profunda de perder o bebê e ter que fazer curetagem

Depois de 16 anos, tomei uma decisão difícil: resolvi engravidar. Essa decisão ocorreu em janeiro de 2016, após uma viagem com meu marido. Temos filhos gêmeos, de 16 anos, e começar tudo novamente me assustava profundamente.
Não estava naquela "vibe" de fazer de tudo para engravidar. A ideia era que fosse algo natural, sem pressão, e quando acontecesse seria, sim, um momento muito especial. Em julho, havia consultado com o ginecologista obstetra, que solicitou diversos exames e receitou ácido fólico para preparar para o momento da gravidez. Foi aí que em novembro de 2016 houve o atraso menstrual.



Já estava na expectativa há alguns meses, por pequenos atrasos que não eram nada, mas desta vez já estava atrasada há quatro dias e resolvi fazer o teste de farmácia. Resultado: dois risquinhos cor de rosa, tão fraquinhos que corri para fazer o exame de sangue. Às 14h sairia o resultado. Mas já com o pensamento certeiro de que seria positivo, saí para fazer umas comprinhas e preparar a surpresa para a família, neste caso, meu marido e os filhos... Esperei o resultado (que olhei pela internet) e pimba: preparei a surpresa.
Até hoje lembro da reação e felicidade do marido e dos gêmeos. Logo depois que a ficha finalmente caiu para todos, saímos para contar ao restante da família, pessoalmente. Todo cuidado era pouco: parei com café, chimarrão, bebidas alcoólicas, remédios, tudo que poderia fazer mal.
Em época de fim de ano, festa natalina e tal, foram muitos os presentinhos que ganhamos para o bebê. Havíamos ido ao ginecologista uma semana antes do Natal, pra ver se estava correndo tudo bem. O coraçãozinho batia forte, tínhamos um carinhoso apelido para o bebê que crescia e até cumprimento especial.
A felicidade era de um 2017 diferente, com mais um membro na família. Estávamos radiantes. Até que, na primeira semana do ano e segunda consulta ao ginecologista - e com as expectativas e planos para um novo bebê e novo ano a mil -, eis que recebo a triste notícia de que o coração não estava mais batendo. Estava com dez semanas, dois meses. Era dia 5 de janeiro de 2017. Um ano que não acaba mais, poderia assim dizer.
Dói demais. E ainda está doendo. Ter a felicidade extrema e de repente ela ser arrancada e virar uma tristeza profunda é doloroso demais.
É fácil dizer "bola pra frente", "não era a hora", "não era pra ser", "isso acontece" ou "Deus quis assim", mas não é fácil saber que aquele serzinho que estava dentro de mim e já era tão amado não aguentou. Já amava este bebê como amo os gêmeos. Mas ele não virá.
Tive aborto retido. Fiquei quatro dias com ele sem vida dentro de mim. Veio o luto, a dor, a insônia, o pesadelo e as perguntas: "por que eu?". Na segunda-feira, fui para o hospital para fazer a curetagem. E isso, essa dor, ninguém te conta como é.
Achei que faria o procedimento de manhã e já iria embora, pois todos diziam que "é algo simples". Antes de ir para o quarto, notei um pequeno sangramento. Fui para o quarto 206. A primeira enfermeira veio ao meio-dia aferir pressão, medir febre, fazer perguntas de praxe e colocar em mim dois comprimidos (no cólo do útero) para dilatar e expelir o "corpo estranho". Durante duas horas consecutivas, não poderia levantar de maneira alguma. E as cólicas começaram aos poucos.
O médico foi no quarto e liberou a comida. Eu estava sem comer desde domingo, às 23h. Meu café chegou em seguida.
Às 17h, novamente vieram colocar mais dois comprimidos e duas horas sem levantar. A dor só aumentava, assim como o sangramento. Nesse meio tempo, meu médico ligou para o quarto para saber como eu estava. Expliquei os sintomas e ele pediu que, a partir da meia-noite, não comesse e bebesse mais nada para realizar o procedimento no outro dia.
Por volta das 20h30, outra enfermeira veio com outros dois comprimidos. Foi quando o embrião foi expelido. Não tive coragem de olhar, nem sei o que senti, tamanha era a dor que sentia - tanto física quanto emocional. Foi o pior dia (até agora) da minha vida.
Ao sair aquele corpo de mim, não precisei mais usar o comprimido. Mas o sangramento foi forte, a cólica passou de forte a fraquinha.
O procedimento ocorreu apenas na manhã seguinte. Fui para a sala cirúrgica às 9h20 da terça-feira. Meu médico veio conversar, explicar como seria o procedimento e o pós-curetagem. Estava nervosa, com medo, apreensiva.
Entrei na sala e o anestesista perguntou algumas coisas, se era alérgica a medicamentos, altura, peso, se já havia feito alguma cirurgia. Enfim, foi a primeira vez e isso me deixou tensa (tive os gêmeos de parto normal).
Lembro da última pergunta que o anestesista fez, que era como eu estava. Respondi que estava nervosa e tonta. Depois, não lembro de mais nada. Acordei às 11h30 na sala de observação, com uma máscara de respiração e aparelho de medir batimentos cardíacos. Fiquei um tempinho ali ainda e me levaram para o quarto. Tive alta às 14h de uma terça-feira (dia 10) menos dolorida que o dia anterior.
À noite, veio a insônia e quando realmente dormi, tive pesadelos. Li que parece ser normal após um aborto.
O médico me deu cinco dias para descansar e disse para depois voltar à ativa, até para sair do meu luto. Tenho que tomar anticoncepcional, receitado por ele, durante três meses. Se quiser engravidar novamente, o que ainda não sei, devo tomar junto o ácido fólico.
Não posso ter atividade sexual por dez dias, não posso engravidar antes de três meses e nem fazer atividade física por 20 a 30 dias. Alguns cuidados são necessários.
Ainda estou com o emocional abalado, não tenho vontade de sair, de conversar, de ser feliz novamente. Por mais que tente, as lágrimas surgem do nada, inesperadamente.
Dói demais e ninguém que tenha passado por isso tem coragem de contar. A dor de perder um bebê, de ter um aborto, é a pior que a mulher pode ter. É parecida com a dor do parto, mas com final infeliz.
Não estava preparada pra isso. Não estou. E pra falar a verdade, tenho medo de passar por tudo isso de novo.: ver a felicidade virar tristeza em tão pouco tempo. Talvez eu não seja mais digna de ser mãe novamente.
Meu bebê se foi e junto com ele a alegria, a expectativa, os planos, o sonho de um ano bom e feliz, e tudo mais. Sei que é passageiro, mas por ora as lágrimas não param - sempre voltam. A dor no coração é forte demais. Queria que tivesse sido apenas um pesadelo. Mas acordei e a dor não passa.

3 comentários:

  1. Es uma flor que vives adubada diariamente por dois lindos garotos que te amam. Falar no seu nome naturalmente seus olhos brilham e um sorriso brotam em seus olhares. Tens um amor que so vive por vc e seus filhos o Max. Serás sim mãe novamente e este anjo lhe trara muitas alegrias e felicidades... Quem sabe uma menina? Pq não... O tempo dira!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigada, querido! Só vi a mensagem hoje, mas ainda assim está valendo pelo carinho! :)

      Excluir
  2. Descrição perfeita... Foi assim que me senti... 2017 acaba logo... 6 meses que meu anjo me deixou... aborto retido de 11 semanas

    ResponderExcluir